1. |
Loffa
02:39
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Só queria tirar um bocado para mim.
As folgas calham aos feriados, para mim.
O vinho está sempre passado, para mim.
Qualquer sentimento é pesado, para mim.
Já liguei mas sem resposta,
Nem aluguer de leveza,
Acidentes de compota
Cianeto à sobremesa.
A ansiedade não se esgota,
Só descansa nas despesas,
Só se amanha com tarefas,
Só se arrasta na moleza.
É só tempo, para nada.
Uma roda parada.
Constrói um escadote até Marte por mim
e pinta os degraus de dourado por mim.
Ateia um incêndio por baixo de mim.
E chama do topo do espaço por mim.
Zela-se por quem se gosta,
isso ao menos é certeza.
Todo o bolbo feio brota,
se houver água e paciência.
A vontade não está morta,
sofre apenas de indolência.
Só se arranca com uma seta,
só precisa dessa urgência.
Nunca é tarde para nada.
Uma roda parada.
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2. |
Paf
03:05
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Que linda moldura que aqui encontrei,
veio dentro da caixa da casa do meu pai,
no meio de faturas, fotos e postais.
Escondi a tua urna dos olhos da mãe
para ver se a loucura um dia lhe convém.
A qualquer pergunta, respondo "ele já vem".
Tu vives numa lua para lá do que eu sei,
eu vivo à procura da bússola que herdei,
não vejo nada mais, não vejo nada mais.
Sei que ontem te vi mudo,
rosto acinzentado,
numa barca
para parte incerta.
Galopas no escuro,
esqueceste o passado.
Estás a milhas,
na explosão das estrelas.
Desculpa lá se fiz merda,
depois um gajo paga os copos, a gente acerta,
relaxa os corpos e por fim tem uma conversa
e logo chegamos a uma conclusão sem pressa.
O chato é a incerteza
de te encontrar de braços abertos à minha espera.
Ouvir-te e falar de todo o azar que tivemos nas merdas
e perceber que somos carne e osso apenas.
Imagina o futuro.
Que linda moldura que aqui encontrei,
veio dentro da caixa da casa do meu pai,
no meio de faturas, fotos e postais.
Escondi a tua urna dos olhos da mãe
para ver se a loucura um dia lhe convém.
A qualquer pergunta, respondo "ele já vem".
Tu vives numa lua para lá do que eu sei,
eu vivo à procura da bússola que herdei,
não vejo nada mais, não vejo nada mais.
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3. |
Quiosque
03:16
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Fim de tarde, hora mágica.
Campo mártires da pátria.
São carne para canhão.
Conto quatro caras de párias,
queimadas do sol a brilhar
e ninguém dá atenção.
Trocos, mortalhas, cigarros ou pão.
Desvio o olhar do pedido abafado,
desejo um bom dia por educação.
É que hoje acordei
sem pensar muito a fundo a diferença
entre ser avarento e cabrão.
Para quê tanta dúvida?
A fome é tão básica.
A gula é que não.
Com a vista cansada,
podia cortar a bobine,
editar, mudar a rotação.
A moeda é uma dúvida,
a sopa, uma dádiva,
o vício, uma escolha,
as palavras só são.
A mente é tão pudica.
A trama, tão trágica.
Terror não-ficção.
Tão tremendo o fosso
entre mim e o outro.
Narrador ausente
a coser os pontos.
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